quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Os elementos da narrativa




Os elementos da narrativa 

O texto narrativo é aquele em que são relatados os acontecimentos que podem ser reais ou imaginários, ocorridos com um ou mais personagens em um determinado tempo e local. Para que o leitor tenha melhor compreensão dos fatos, alguns elementos são indispensáveis: 








Os personagens:

São os seres envolvidos nos fatos narrados, podendo ser pessoas ou até mesmo animais. Eles podem ser principais ou secundários, dependendo do papel que desempenham no enredo e todos são essenciais para que os fatos se desenvolvam.

A caracterização dos personagens pode ser simplesmente física, mas também pode ser psicológica.

Essa apresentação pode ser direta (feita pelo próprio narrador) ou indireta, feita com base nas atitudes e comportamento dos personagens.

Em algumas narrativas, o próprio personagem é quem conta a história e apresenta os outros personagens.

Exemplo:

"Era um bom vizinho e aparentava ter um pouco mais de trinta anos. Era alto e magro e seus cabelos escuros eram bem curtos. Sua tranquilidade constante era o que mais chamava a atenção. Sempre sorridente, jamais se aborrecia com os problemas cotidianos, muito pelo contrário! Esboçava em seu semblante um certo ar de serenidade que contagiava a todos."


O espaço:

Local onde ocorrem os fatos. O espaço pode ser físico (onde são apresentadas características físicas) ou social (apresentando as características do meio social).

Quanto mais detalhada for a descrição do local, melhor será a compreensão do leitor.

Exemplo:

"A casa onde passei minha infância era linda! Tinha um enorme jardim onde se destacavam as flores amarelas que se espalhavam por toda parte e contrastavam com o suave verde da grama sempre bem aparada. A cerca branca e impecavelmente limpa contornava todo o terreno e proporcionava a aparência de um local bem cuidado.

O imóvel contava com dois pavimentos e era muito espaçoso. No primeiro andar, ficava a linda sala de estar que tinha dois enormes sofás, onde minha mãe arrumava suas almofadas de veludo. Havia também, uma antiga mesa de centro, na qual eu gostava de fazer minhas tarefas de casa. A televisão ficava em uma robusta estante de madeira e era o nosso entretenimento de todas as noites. Além disso, as grossas cortinas de veludo adornavam a enorme janela que dava vista para o jardim.

O confortável tapete cinza combinava com as cortinas e deixava o ambiente mais aconchegante.

Logo a seguir, ficava a sala de jantar com uma grande mesa de 10 lugares, na qual fazíamos nossas refeições e reuníamos a família para as comemorações. Ali, minha mãe mantinha um lindo vaso com flores coloridas, cuidadosamente escolhidas em nosso jardim.

A cozinha tinha azulejos brancos e impecavelmente limpos. No grande fogão eram preparadas as deliciosas refeições que minha avó servia com muito carinho. Os armários e a geladeira tinha um tom amarelo clarinho que combinava perfeitamente com o branco do piso e do azulejo..."


O tempo:

Pode ser cronológico ou psicológico. O tempo cronológico estabelece quando os fatos ocorreram, respeitando a ordem dos acontecimentos.

O tempo psicológico está relacionado à forma com que a passagem do tempo é vivenciada pelo personagens, referindo-se aos sentimentos e emoções dos envolvidos no fato.

Tempo cronológico:

Exemplos:

"Tudo começou na primeira semana de dezembro de 2015, na ensolarada manhã de segunda-feira, logo cedo."

"Hoje acordei tarde, pois estava cansado e não tinha que trabalhar."

"Podemos nos encontrar na próxima semana, na sexta-feira às 15h."


Tempo psicológico:

Exprime os sentimentos e pensamentos dos personagens.

Exemplo:

"No decorrer do ano, o cansaço se acumulava cada vez mais. A proximidade das férias deixava-me ainda mais ansioso e a exaustão dominava o meu corpo e a minha mente, mesmo assim eu precisava seguir para o trabalho e concluir as minhas tarefas."

"A tristeza da menina era facilmente notada por todos que a cercavam. Seus olhar sempre cabisbaixo e o semblante inexpressivo preocupavam os familiares e professores."


Enredo:

É onde se desenvolvem os fatos que envolvem os personagens. Mostra também, o local e o tempo.

Exemplo:

"Meteu-se um mono a falar numa roda de sábios e tais asneiras disse que foi corrido a pontapés.

– Quê? Exclamou ele. Enxotam-me daqui? Negam-me talento? Pois hei de provar que sou um grande figurão e vocês não passam duns idiotas.

Enterrou o chapéu na cabeça e dirigiu-se à praça pública onde se apinhava copiosa multidão de beócios. Lá trepou em cima duma pipa e pôs-se a declamar.

Disse asneiras como nunca, tolices de duas arrobas, besteiras de dar com um pau. Mas como gesticulava e berrava furiosamente, o povo em delírio o aplaudiu com palmas e vivas – e acabou carregando-o em triunfo.

– Viram? – resmungou ele ao passar ao pé dos sábios. Reconheceram a minha força? Respondam-me agora: que vale a opinião de vocês diante desta vitória popular?

Um dos sábios retrucou serenamente:

A opinião da qualidade despreza a opinião da quantidade."

Monteiro Lobato 


O foco narrativo:

É a forma como é feita a narrativa: seja ela em 1ª pessoa (eu, nós) ou em 3ª pessoa (ele, ela, eles, elas).

A narrativa em 1ª pessoa é feita pelo narrador-personagem e a em 3ª pessoa é feita pelo narrador onisciente que observa tudo sem participar diretamente da trama.

A narrativa pode ser feita de forma objetiva, ou seja, quando não há envolvimento emocional do narrador com os fatos. Um exemplo deste tipo de narrativa é o texto jornalístico.

Exemplo:

" MANAUS - Após negar irregularidades em sua operação em Barcarena, a fabricante de alumina norueguesa Hydro Alunorte admitiu nesta sexta-feira (23) a existência de uma tubulação que deságua no rio Murucupi. O Ibama agora suspeita que foi por ali que passaram os rejeitos que contaminaram comunidades vizinhas da fábrica."

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/02/ibama-investiga-origem-da-contaminacao-de-fabrica-de-alumina-no-pa.shtml

Por outro lado, quando há envolvimento emocional do personagem, dizemos que a narração é subjetiva.

Exemplo:

" - É então verdade que me ama?

- Pois duvida, Aurélia?

- E amou-me sempre, desde o primeiro dia que nos vimos? -

Não lho disse já?

- Então nunca amou a outra?

- Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher, que não fosse minha mãe. O meu primeiro beijo de amor guardei-o para minha esposa, para ti...

Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia operado na fisionomia de sua noiva.

Aurélia estava lívida e a sua beleza, radiante há pouco, se marmorizara. - Ou para outra mais rica!... Disse ela, retraindo-se para fugir ao beijo do marido e afastando-o com a ponta dos dedos.

Senhora - Alencar, José de - fragmento. 


Os tipos de discursos

A narrativa pode apresentar três tipo de discurso distintos que irão influenciar a dinâmica do texto.

Discurso direto:

A transição das falas dos personagens ocorre sem a participação do narrador.

Exemplo:

"O pai afirmou:

- Viajaremos nas férias para Orlando!"


"A professora disse:

- Guardem o material pois iremos para o recreio."


"A criança perguntou:

-Mamãe, posso brincar mais um pouquinho?"


Discurso indireto:

Ocorre a interferência do narrador que reproduz a fala dos personagens através das suas próprias palavras.

Exemplos:

O pai afirmara que a família viajaria para Orlando nas férias.

A professora pediu para os alunos guardarem o material pois já estava na hora do recreio.

A criança perguntou à mãe se poderia brincar mais um pouco.



Discurso indireto livre:

Os acontecimentos são narrados simultaneamente, utilizando as falas diretas dos personagens inseridas no discurso do narrador.

Exemplos:

O pai, impaciente, perguntou ao filho o motivo do atraso. O menino estava nervoso, mas não tinha o que fazer além de dizer a verdade. Contou que a bicicleta havia quebrado, já imaginando que o pai não acreditaria nele.

Amanheceu chovendo e fazendo muito frio.. - Bem, lá vou eu passar o dia assistindo televisão!



A estrutura do texto narrativo

O texto narrativo apresenta uma estrutura necessária para o desenvolvimento da história:

Apresentação ou introdução:

É o início da narrativa onde são apresentados os personagens, o local, o tempo e alguns aspectos a respeito dos fatos que serão narrados.

Desenvolvimento ou clímax:

Parte do texto onde ocorrem os acontecimentos e complicações dos fatos iniciais que levam ao clímax, ou seja, o momento mais tenso e emocionante da história.

Conclusão ou desfecho:

Solução dos conflitos produzidos pelas ações dos personagens apresentadas anteriormente. As consequências podem ser positivas ou negativas.


Questões:

1. Fatec-1995

"Ela insistiu: - Me dá esse papel aí."

Na transposição da fala do personagem para o discurso indireto, a alternativa correta é:

a) Ela insistiu que desse aquele papel aí.
b) Ela insistiu em que me desse aquele papel ali.
c) Ela insistiu em que me desse aquele papel aí.
d) Ela insistiu por que lhe desse este papel aí.
e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali.


2. Fuvest-2000

Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando.

(Graciliano Ramos, Vidas secas)

Uma das características do estilo de Vidas Secas é o uso do discurso indireto livre, que ocorre no trecho:

a) “sinha Vitória falou assim”.
b) “Fabiano resmungou”.
c) “franziu a testa”.
d) “que lembrança”.
e) “olhou a mulher”.


3. Fuvest-2003

Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta e poucos. De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se um homem e… O homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Seus olhos se enchem de lágrimas.

Sente uma coisa no peito. Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. Como eu era inocente. Como os meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás. O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental!

(Luís Fernando Veríssimo, Comédias para se ler na escola)

O discurso indireto livre é empregado na seguinte passagem:

a) Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo.
b) Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena.
c) Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade.
d) O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente.
e) O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta.


4. Fuvest-2007

“‘Muito!’, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro.”

Se a pergunta a que se refere o trecho fosse apresentada em discurso direto, a forma verbal correspondente a “gostara” seria:

a) gostasse.
b) gostava.
c) gostou.
d) gostará.
e) gostaria.


5. FGV-2003

Assinale a alternativa em que ocorra discurso indireto.

a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho.
b) Já era tarde. O ruído dos grilos não era suficiente para abafar os passos de Delfino. Estaria ele armado? Certamente estaria. Era necessário ter cautela.
c) Quem seria capaz de cometer uma imprudência daquelas?
d) A tinta da roupa tinha já desbotado quando o produtor decidiu colocá-la na secadora.
e) Era então dia primeiro? Não podia crer nisso.



Gabarito:

1. E

2. D

3. A

4. C

5. A



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