quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O Barroco no Brasil


  

O panorama do Brasil no século XVII ainda não era propício

para o desenvolvimento de uma produção literária propriamente dita. Boa parte do país ainda não era povoado e a vida cultural era praticamente inexistente. Ainda assim, algumas obras com características tipicamente barrocas foram produzidas no período, principalmente da região do Nordeste.

Ao introduzir o Barroco no Brasil, os jesuítas tinham como objetivo criar um movimento apenas destinado à catequização. A função da Igreja nessa época era mostrar o caminho da religiosidade e da moral que serviria também para doutrinar a sociedade brasileira que vivia de uma forma desregrada e fora dos padrões considerados corretos.

Diferentemente de outras escolas literárias, o Barroco é abrangente no que se refere à arte. A literatura é apenas um dos aspectos que se destacam no período, pois nesta fase ocorre também o amplo desenvolvimento das obras nos âmbitos da pintura e da arquitetura.

Quanto à literatura, o período Barroco teve início no Brasil em 1601, com a publicação do poema Prosopopeia, de Bento Teixeira Pinto.


Bento Teixeira

                                                       

LX

"Olhai o grande gozo e doce glória
Que tereis quando, postos em descanso,
Contardes esta larga e triste história,
Junto do pátrio lar, seguro e manso.
Que vai da batalha a ter victória,
O que do Mar inchado a um remanso,
Isso então haverá de vosso estado
Aos males que tiverdes já passado.''


Além dele, outros poetas destacaram-se, como por exemplo,  
o Padre Antônio Vieira.


A obra literária de Vieira pode ser classificada tanto como 

portuguesa quanto brasileira, já que foi produzida nos dois 

países.
O poeta foi responsável por sermões que tornaram-se 

famosos, dentre os quais destacam-se:

Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as 

de Holanda (1640);

Sermão do mandato (1650);


Sermão de Santo Antônio aos peixes (1654);


Sermão da Sexagégima (1650).




Fragmento do Sermão da Sexagégima:


"Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem 

tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a 

palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um 

homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há 

um moço que se arrependa, não há um velho que se 

desengane. Que é isto? "



Gregório de Matos



O principal poeta do século XVII, no entanto, é Gregório de

Matos e Guerra. Conhecido por Boca do Inferno 

principalmente por causa de sua poesia satírica, dividiu sua 

conturbada vida entre Brasil e Portugal, onde estudou e 

formou-se em Direito. Sua obra é dividida em três temas 

distintos:



Poesia sacra:


Apresenta temática religiosa que contempla a comemoração 

a festas de santos e poemas de reflexão moral.


" Destes que campam no mundo


Sem ter engenho profundo


E, entre gabos dos amigos,



Os vemos em papafigos


Sem tempestade, nem vento:



Anjo Bento!"




Poesia lírico-amorosa:



É abrangente e aborda temas como a idealização do amor, 

receio do desprezo e a busca pela definição do amor, feita 

de uma forma irônica.



"Ardor em coração firme nascido!


Pranto por belos olhos derramado!


Incêndio em mares de água disfarçado!


Rio de neve em fogo convertido!"




Poesia satírica:


É, sem dúvida, o ponto alto da carreira do poeta. Todos

eram alvo de suas maliciosas críticas: ricos, pobres, negros,

brancos, pessoas vinculadas ao governo e, até mesmo seus 

amigos.



"Triste Bahia


Triste Bahia!

ó quão dessemelhante


Estás e estou do nosso antigo estado!

Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.


A ti tricou-te a máquina mercante,

Que em tua larga barra tem entrado,

A mim foi-me trocando e, tem trocado,

Tanto negócio e tanto negociante."



O período barroco é marcado por algumas características,

dentre as quais destacam-se:



Arte rebuscada e exagerada:


A utilização de um vocabulário complexo e compreendido


por poucos, manteve a literatura barroca acessível apenas a


uma pequena parcela da população, formada


essencialmente pela elite. O exagero mostrava-se presente


nos poema através de palavras e expressões que levavam


o sentimentalismo dos poetas ao extremo.



Valorização dos detalhes:


A riqueza de detalhes estava presente em todos os âmbitos 

da arte barroca, incluindo a pintura, a escultura e a literatura.


Dualismo e contradições:


Outros aspectos relevantes na literatura barroca eram o 

dualismo e as contradições, algumas vezes presentes no

mesmo verso do poema. Tudo o que causasse contraste 

era valorizado e amplamente explorado pelos poetas da

época.



O Cultismo e o Conceptismo na literatura barroca



O Barroco é marcado por dois estilos literários distintos: 

o cultismo e o conceptismo. 


O cultismo refere-se ao chamado "jogo de palavras". Nesse 

estilo a linguagem é culta, rebuscada e até mesmo

extravagante. Tudo é descrito de forma detalhada 

e pormenorizada.


O conceptismo diz respeito ao "jogo de ideias". O estilo 

conceptista valoriza o pensamento e a concepção dos

 conceitos. A lógica, racionalismo e a retórica aprimorada

 são elevados ao grau máximo nas obras literárias.



Antítese na poesia barroca


Antítese:


Reflete a contradição vivida pelo homem barroco,

seu dualismo. Mostra o contraste visto pelo escritor

em quase  tudo. O poema Á Ilha da Maré de Manuel

 Botelho de Oliveira, salienta traços contrastantes:



Vista por fora é pouco apetecida,

Porque aos olhos por feia é parecida;

Porém dentro habitada,

É muito bela, muito desejada,

É como a concha tosca e deslustrosa,

Que dentro cria a pérola formosa:

Erguem-se nela outeiros

Com soberbas de montes altaneiros,

Que os vales por humildes desprezando,

As presunções do Mundo estão mostrando,

E querendo ser príncipes subidos,

Ficam os vales a seus pés rendidos.


Paradoxo na poesia barroca

Paradoxo:
É a união de duas ideias contrárias num só pensamento. O soneto VII de Gregório Matos Guerra  apresenta esta figura de linguagem:

SONETO VII

Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!

Tu, que em ímpeto abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! Que andou Amor em ti prudente.

Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.




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