1. FUVEST
“(...) Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e
do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no
gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume. Todas essas ações
eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava-as, para me não descobrir a mim
mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a
mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam
comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe,
ora devagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada
e agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha
que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o castigo de um dia para
outro.
O que se passava entre mim e Capitu naqueles dias sombrios, não se
notará aqui, por ser tão miúdo e repetido, e já tão tarde que não se poderá
dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o principal irá. E o principal é que os
nossos temporais eram agora contínuos e terríveis. Antes de descoberta aquela
má terra da verdade, tivemos outros de pouca dura; não tardava que o céu se fizesse
azul, o sol claro e o mar chão, por onde abríamos novamente as velas que nos
levavam às ilhas e costas mais belas do universo, até que outro pé de vento
desbaratava tudo, e nós, postos à capa, esperávamos outra bonança, que não era
tardia nem dúbia, antes total, próxima e firme (...)”.
(Fragmento
do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis)
A
narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom
Casmurro, de Machado de Assis, se faz em primeira pessoa, portanto, do ponto de
vista da personagem Bentinho. Seria, pois, correto dizer que ela apresenta-se:
a) fiel aos fatos e perfeitamente adequada
à realidade
b) viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador
c) perturbada pela interferência de
Capitu que acaba por guiar o narrador;
d) senta de quaisquer formas de interferência, pois visa à verdade;
e) indecisa entre o relato dos fatos e a
impossibilidade de ordená-los.
2. UFV
Considere o texto:
“O
incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de
dezembro do ano de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo
famosa da noite para o dia. (…) Bem, mas não convém antecipar fatos nem ditos.
Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto
possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma
idéia mais clara do palco, do cenário e principalmente da personagens
principais, bem como da comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais da
espécie humana.” (Érico Veríssimo)
Assinale
a alternativa que evidencia o papel do narrador no fragmento acima:
a) O narrador tem senso prático, utilitário
e quer transmitir uma experiência pessoal.
b)
É um narrador introspectivo, que relata
experiências que aconteceram no passado, em 1963.
c) Em atitude semelhante à de um jornalista
ou de um espectador, escreve para narrar o que aconteceu com x ou y em tal
lugar ou tal hora.
d) Fala de maneira exemplar ao leitor,
porque considera sua visão a mais correta.
e) É um narrador neutro, que não deixa o
leitor perceber sua presença.
3. UNIFENAS
Com base no texto abaixo, indique a alternativa cujo elemento
estruturador da narrativa não foi interposto no episódio:
“Porque
não quis pagar uma garrafa de cerveja, Pedro da Silva, pedreiro, de trinta
anos, residente na rua Xavier, 25, Penha, matou ontem em Vigário Geral, o seu
colega Joaquim de Oliveira.”
a) o lugar
b) a época
c) as personagens
d) o fato
e) o modo
4. Enem
2009 - adaptada
[...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só
exiqindo deste bem comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que
consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que
me era vital, já foi o tempo em que reconhecia a existência escandalosa de
imaqinados valores, coluna vertebral de toda 'ordem'; mas não tive sequer o
sopro necessário, e, neqado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta
consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras aqora minhas
preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio
- definitivamente fora de foco cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto
de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica
uma piada: impossível ordenar o mundo dos valores, ninquém arruma a casa do
capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja o amor,
a amizade, a família, a iqreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! Me apavora
ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi conscientemente
que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes
[...].
Nassar, r. Um copo de
cólera. São Paulo: Companhia das letras, 1992
Na novela Um Copo de
Cólera, o autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos
típicos da literatura produzida na década de 70 do século passado no Brasil,
que, nas palavras do crítico Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e
amargura política”.
Com relação à temática abordada e à concepção narrativa da novela:
a) é escrito em terceira
pessoa, com narrador onisciente, apresentando a disputa entre um homem e uma
mulher em linguagem sóbria, condizente com a seriedade da temática
político-social do período da ditadura militar.
b) articula o discurso dos
interlocutores em torno de uma luta verbal, veiculada por meio de linguagem
simples e objetiva, que busca traduzir a situação de exclusão social do
narrador.
c) representa a literatura dos anos 70 do século XX e aborda, por meio de
expressão clara e objetiva e de ponto de vista distanciado, os problemas da
urbanização das grandes metrópoles brasileiras.
d) evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os personagens, por meio de
fluxo verbal contínuo de tom agressivo.
e) traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir do ponto de vista
interno, os dramas psicológicos da mulher moderna, às voltas com a questão da
priorização do trabalho em detrimento da vida familiar e amorosa.
5 - Enem-2013
"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a
outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história
da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas
sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a
escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer?
Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os
dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade?
Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos
montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma
visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É
visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou
escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não início pelo fim que
justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso
registrar os fatos antecedentes."
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998
(fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória
literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da
estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento,
nota-se essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os
acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e
às personagens.
b) relata a história sem ter tido a
preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete
sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma
história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de
natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
6. USP
O índio, em alguns
romances de José de Alencar,
como Iracema e Ubirajara,
é:
a) retratado com objetividade, numa perspectiva
rigorosa e científica.
b) idealizado sobre o pano de fundo da natureza, da
qual é o herói épico.
c) pretexto episódico para descrição da natureza.
d) visto com o desprezo do branco preconceituoso, que
o considera inferior.
e) representado como um primitivo feroz e de maus
instintos.
GABARITO:
1 - B
2 - C
3 - E
4 - D
5 - C
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