Os textos literários podem ser escritos de duas formas: em verso ou em prosa. São escritos em verso aqueles que apresentam a estrutura de um poema ou de uma letra de música, por exemplo, onde os versos são agrupados em estrofes.
São escritos em prosa os que apresentam frases que são agrupadas em parágrafos.
É importante lembrar que, de um modo geral, ainda que possam ser baseados na realidade, os textos literários são impregnados de subjetividade e expressam as emoções e os sentimentos do autor.
O gênero narrativo
O texto é considerado narrativo quando relata uma sequência de fatos que ocorrem com os personagens. Tais fatos são expressos através do tempo, do espaço e da movimentação dos envolvidos. Em todas as narrativas há um narrador, que é quem conta a história. Em alguns textos o narrador pode participar diretamente da trama, tornado-se assim, um personagem. Os textos narrativos podem ser escritos tanto em verso, como nas epopeias, quanto em prosa, como nas narrativas atuais.
Os discursos utilizados podem ser o direto, o indireto e o indireto livre.
Os textos narrativos podem ser divididos em:
Épico
Os textos que pertencem o gênero épico são marcados pela presença de um narrador que conta uma história que envolve outras pessoas. A temática principal é história de um povo ou nação. Os textos são extensos e envolvem viagens, conquistas, guerras, aventuras e grandes feitos heroicos.
III
"Os dois exércitos avançam um contra o outro. — Páris à frente dos Troianos provoca os mais bravos dos Gregos ao combate. — Menelau vai ao seu encontro, mas Páris amedrontado busca refúgio entre os Troianos. — Exprobracões de Heitor. — Resposta de Páris; propõe sustentar um combate com Menelau do qual Helena será o prêmio. — Heitor, contente leva o desafio de seu irmão ao herói Grego. — Discurso de Menelau. — Preparam-se sacrifícios. — Entretanto Íris, tomando a forma de Laodice, vai ter com Helena, e lhe anuncia as disposições dos dois exércitos — Helena vai às portas Ceias, onde ela acha a assembléia dos velhos Troianos, que fazem o elogio de sua beleza."
Ilíada - Homero
Romance:
Assim como no gênero épico, narra uma história que envolve outras pessoas. No enredo ocorre uma sequência de ações que envolvem os personagens. Em geral, a narrativa contada se aproxima da realidade, levando o leitor a se identificar, em muitas das vezes, com os personagens ou com as situações vividas por ele.
"Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou-se deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era rica e famosa. Duas opulências, que se realçavam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante. Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor?"
Senhora - José de Alencar
Fábula:
São textos riquíssimos que exploram a criatividade do autor. São apreciados pelas crianças pois envolvem personagens nada tradicionais como animais e objetos que ganham vida e características humanas. As histórias costumam ser curtas, o que desperta ainda mais o interesse das crianças e dos jovens.
" Andava um Galo a esgravatar no chão, para achar migalhas ou bichos que comer, quando encontrou uma pérola. Exclamou: — Ah, se te achasse um joalheiro! A mim porém de que vales? Antes uma migalha ou alguns grãos de cevada. Dito isto, foi-se embora em busca de alimento.
Moral da história Os ignorantes, desprezando os ensinamentos proveitosos e a doutrina moral que sob das Fábulas se esconde, fazem o que fez este Galo; buscam coisas sem valor, cevada e migalhinhas."
O Galo e a Pérola - Esopo
Novela:
Diferentemente dos romances, a novela apresenta uma narrativa mais curta, podendo ter entre 50 a 100 páginas. A história se passa ao redor de um personagem que vive uma situação de conflito que vai sendo desvendada no decorrer da narrativa.
"As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia. —A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo."
O Alienista - Machado de Assis
Conto:
Os contos são narrativas curtas estruturadas em poucos parágrafos que relatam fatos cotidianos ou histórias do folclore brasileiro, sempre de uma forma popular facilmente compreendida pelo público em geral.
"O jardim em frente Os big-shots da empresa estavam reunidos em conferência. Assunto importante, desses que exigem atenção, objetividade. O presidente recomendara: — Não estamos para ninguém. Essa porta fica trancada. Avisem a telefonista que não atenda a nenhum chamado. Nem do Papa. Começou-se por dividir o assunto em partes, como quem divide um leitão. Cada parte era examinada pelo direito e pelo avesso, avaliada, esquadrinhada, radiografada. Cartesianamente. — Você aí, quer fazer o favor de parar com essa caricatura? O presidente não admitia alienação. Por sua vez, foi advertido pelo vice: — E você, meu caro, podia deixar de bater com esse lápis, toc, toc, toc, na mesa? Estavam tensos, à véspera de uma decisão que envolvia grandes interesses. Alguém bateu à porta. — Não respeitam! Não respeitam o trabalho da gente! Isso não é país! Seja ou não seja país, quando batem à porta a solução é abrir, para evitar novas batidas, ou, mesmo, que a porta venha abaixo. Pois ninguém deixa de bater, se sabe que tem gente do outro lado. O diretor-secretário abriu, de óculos fuzilantes. O chefe da portaria, cheio de dedos, balbuciou: — Essa senhora… essa senhora aí. Veio pedir uma coisa. O primeiro impulso do diretor-secretário foi demitir imediatamente o chefe da portaria, servidor antigo, conceituadíssimo, mas viu ao mesmo tempo diante de si a imagem consternada do homem e a lei trabalhista: duas razões de clemência. Pensou ainda em mandar a senhora àquele lugar de Roberto Carlos ou a outro pior. Dominou-se: ela ostentava no rosto aquela marca de tristeza que amolece até diretoria. — A senhora me desculpe, mas estou tão ocupado. — Eu sei, eu é que peço desculpas. Estou perturbando, mas não tinha outro jeito. Moro do outro lado da rua, no edifício em frente. Meu canário… — Fugiu e entrou aqui no escritório? Eu mando pegar. Fique tranquila. — Antes tivesse fugido. Morreu. — E daí? — Viveu quinze anos conosco. Era uma graça… Pousava no dedo… — E daí, minha senhora? — O senhor vai estranhar meu pedido… Eu estava sem coragem de vir aqui. Por favor, não ria de mim. — Não estou rindo. Pode falar. — Os senhores têm um jardim tão lindo na cobertura. Da minha janela, fico apreciando. Então agora está uma coisa. Posso fazer um pedido? — Pode. — Eu queria enterrar o meu canário no seu jardim. Lá é que é lugar bom para ele descansar. O senhor vê, nós temos aquele terrenão ao lado do edifício, com três palmeiras, um pé de fruta-pão, mas é grande demais para um passarinho, falta intimidade. Se o senhor consente, eu mesma abro a covinha. Não dou o menor trabalho, não sujo nada. O diretor-secretário esqueceu que tinha pressa, que havia um problema sério a discutir. Que problema? Naquele momento, o importante, o real era um canarinho morto, e amado. — Pois não, minha senhora, disponha do jardim. Eu mesmo vou levar a senhora lá em cima, para escolher o lugar. Subiram, escolheram o canteiro mais apropriado, onde bate sol pela manhã, e à tarde as plantas balançam levemente, à brisa do mar. — Não é abuso eu fazer mais um pedido? Queria que o jardineiro não revolvesse a terra neste ponto, durante três meses. O tempo de os ossinhos dele se desfazerem… Volto daqui a meia hora, para o enterro. Meia hora depois, voltava com uma caixinha forrada de veludo azul-claro, e a reunião dos big-shots, que ainda durava, foi suspensa para que todos, com o presidente muito compenetrado, assistissem ao sepultamento."
Carlos Drummond de Andrade
Crônica:
São textos curtos elaborados para serem publicados em jornais. O cronista escreve de uma forma bastante simples e acessível ao público a respeito de fatos cotidianos e corriqueiros. Sua visão de mundo é exposta em tom sarcástico e cômico, despertando assim, o interesse do leitor que se diverte com as situações relatadas.
"Minhas Férias
Eu, minha mãe, meu pai, minha irmã, Su, e meu cachorro, Dogman, fomos fazer camping. Meu pai decidiu fazer camping este ano porque disse que estava na hora de a gente conhecer a natureza de perto, já que eu, a minha irmã e o meu cachorro nascemos em apartamento, e, até cinco anos de idade, sempre que via um passarinho numa árvore, eu gritava “aquele fugiu!” e corria para avisar um guarda; mas eu acho que meu pai decidiu fazer camping depois que viu os preços dos hotéis, apesar da minha mãe avisar que, na primeira vez que aparecesse uma cobra, ela voltaria para casa correndo, e minha irmã insistir em levar o toca-disco e toda a coleção de discos dela, mesmo o meu pai dizendo que aonde nós íamos não teria corrente elétrica, o que deixou minha irmã muito irritada, porque, se não tinha corrente elétrica, como ela ia usar o secador de cabelo? Mas eu e o meu cachorro gostamos porque o meu pai disse que nós íamos pescar e cozinhar nós mesmos o peixe pescado no fogo, e comer o peixe com as mãos, e se há uma coisa que eu gosto é confusão. Foi muito engraçado o dia em que minha mãe abriu a porta do carro bem devagar, espiando embaixo do banco com cuidado e perguntando “será que não tem cobra?”, e o meu pai perdeu a paciência e disse “entra no carro e vamos embora”, porque nós ainda nem tínhamos saído da garagem do edifício. Na estrada tinha tanto buraco que o carro quase quebrou, e nós atrasamos, e quando chegamos no lugar do camping já era noite, e o meu pai disse “este parece ser um bom lugar, com bastante grama e perto da água”, e decidimos deixar para armar a barraca no dia seguinte e dormir dentro do carro mesmo; só que não conseguimos dormir, porque o meu cachorro passou a noite inteira querendo sair do carro, mas a minha mãe não deixava abrirem a porta, com o medo de cobra; e no dia seguinte tinha a cara feia de um homem nos espiando pela janela, porque nós tínhamos estacionado o carro no quintal da casa dele, e a água que o meu pai viu era a piscina dele e tivemos que sair correndo. No fim conseguimos um bom lugar para armar a barraca, perto de um rio. Levamos dois dias para armar a barraca, porque a minha mãe tinha usado o manual de instruções para limpar umas porcarias que meu cachorro fez dentro do carro, mas ficou bem legal, mesmo que o zíper da porta não funcionasse e para entrar ou sair da barraca a gente tivesse que desmanchar tudo e depois armar de novo. O rio tinha um cheiro ruim, e o primeiro peixe que nós pescamos já saiu da água cozinhando, mas não deu para comer, e o melhor de tudo é que choveu muito, e a água do rio subiu, e nós voltamos pra casa flutuando, o que foi muito melhor que voltar pela estrada esburacada; quer dizer que no fim tudo deu certo."
Veríssimo, Luis Fernando. O Santinho.
O gênero lírico
Os textos líricos são escritos em versos. Aqui são projetadas as emoções, sentimentos e desejos do mundo interior do poeta. Há predominância da expressão do eu, com plena manifestação da sua individualidade. O tema mais comum é o amor, mas também pode referir-se à angústia da vida e ao desejo de morte, como ocorre frequentemente nos poemas do Romantismo, no século XIX.
"Aqui neste profundo apartamento Aqui neste profundo apartamento Em que, não por lugar, mas mente estou, No claustro de ser eu, neste momento Em que me encontro e sinto-me o que vou, Aqui, agora, rememoro Quanto de mim deixer de ser E, inutilmente, [....] choro O que sou e não pude ter."
Fernando Pessoa
O gênero dramático
Os textos dramáticos são caracterizados pelo diálogo entre os personagens. São escritos para serem encenados, como em um teatro ou em uma novela. Nele é feita a descrição do espaço ou ambiente e dos personagens, que narram a história através de suas palavras e da representação dos atores. Podem ser classificados como tragédia, comédia, farsa, auto ou drama.
"...Dous dias amargurados, Que eu possa durar viva? E assim hei-de estar cativa Em poder de desfiados? Antes o darei ao Diabo Que lavrar mais nem pontada. Já tenho a vida cansada De fazer sempre dum cabo. Todas folgam, e eu não, Todas vêm e todas vão Onde querem, senão eu. Hui! e que pecado é o meu, Ou que dor de coração? Esta vida he mais que morta. Sam eu coruja ou corujo, Ou sam algum caramujo Que não sai senão à porta? E quando me dão algum dia Licença, como a bugia, Que possa estar à janela, É já mais que a Madanela Quando achou a aleluía...."
A Farsa de Inês Pereira - Gil Vicente
Nenhum comentário:
Postar um comentário