segunda-feira, 23 de novembro de 2020

ENEM - Questões sobre o Parnasianismo

 



1.ENEM 2009

Ouvir estrelas

“Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo

perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

que, para ouvi-las, muita vez desperto

e abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto

a Via-Láctea, como um pálio aberto,

cintila. E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,

inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas?” Que sentido

tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

 

(BILAC, Olavo. Ouvir estrelas. In: Tarde, 1919)

 

Ouvir estrelas

Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo

que estás beirando a maluquice extrema.

No entanto o certo é que não perco o ensejo

De ouvi-las nos programas de cinema.

Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo

que mais eu gozo se escabroso é o tema.

Uma boca de estrela dando beijo

é, meu amigo, assunto p’ra um poema.

Direis agora: Mas, enfim, meu caro,

As estrelas que dizem? Que sentido

têm suas frases de sabor tão raro?

Amigo, aprende inglês para entendê-las,

Pois só sabendo inglês se tem ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.

 

(TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas. In: Becker, I. Humor e humorismo: Antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961)

 

A partir da comparação entre os poemas, verifica-se que

 

a) no texto de Bilac, a construção do eixo temático se deu em linguagem denotativa, enquanto no de Tigre, em linguagem conotativa.

b) no texto de Bilac, as estrelas são inacessíveis, distantes, e no texto de Tigre, são próximas, acessíveis aos que as ouvem e as entendem.

c) no texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais trabalhada, como se observa no uso de estruturas como “dir-vos-ei sem pejo” e “entendê-las”.

d) no texto de Tigre, percebe-se o uso da linguagem metalinguística no trecho “Uma boca de estrela dando beijo/é, meu amigo, assunto p’ra um poema.”

e) no texto de Tigre, a visão romântica apresentada para alcançar as estrelas é enfatizada na última estrofe de seu poema com a recomendação de compreensão de outras línguas.

 

2. ENEM 2013

Mal secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasilia: Alhambra, 1995.)

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que:


a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.
b) o sofrimento intimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

 

3.ENEM 2014

Abrimos o Brasil a todo o mundo: mas queremos que o Brasil seja Brasil! Queremos conservar a nossa raça, a nossa história, e, principalmente, a nossa língua, que é toda a nossa vida, o nosso sangue, a nossa alma, a nossa religião.

 

(Olavo Bilac. Últimas conferências e discursos.  Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1927)

 

Nesse trecho, Olavo Bilac manifesta seu engajamento na constituição da identidade nacional e linguística, ressaltando a:

 

a) transformação da cultura brasileira.

b) religiosidade do povo brasileiro.

c) abertura do Brasil para a democracia.

d) importância comercial do Brasil.

e) autorreferência do povo como brasileiro.

 

4. ENEM 2015

A pátria

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!

Criança! não verás nenhum país como este!

Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!

A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,

É um seio de mãe a transbordar carinhos.

Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,

Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!

Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!

Vê que grande extensão de matas, onde impera,

Fecunda e luminosa, a eterna primavera!

Boa terra! jamais negou a quem trabalha

O pão que mata a fome, o teto que agasalha...

Quem com o seu suor a fecunda e umedece,

Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!

Criança! não verás pais nenhum como este:

Imita na grandeza a terra em que nasceste!

 

(BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929)

 

Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que:

a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza.

b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo.

c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais.

d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele momento.

e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado.

 

 

Gabarito:

1.D

2.A

3.E

4.B

 

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