1.ENEM 2009
Ouvir estrelas
“Ora,
(direis) ouvir estrelas! Certo
perdeste
o senso!” E eu vos direi, no entanto,
que,
para ouvi-las, muita vez desperto
e
abro as janelas, pálido de espanto...
E
conversamos toda noite, enquanto
a
Via-Láctea, como um pálio aberto,
cintila.
E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,
inda
as procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: “Tresloucado amigo!
Que
conversas com elas?” Que sentido
tem
o que dizem, quando estão contigo?”
E eu
vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois
só quem ama pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas”.
(BILAC, Olavo. Ouvir estrelas.
In: Tarde, 1919)
Ouvir estrelas
Ora,
direis, ouvir estrelas! Vejo
que
estás beirando a maluquice extrema.
No
entanto o certo é que não perco o ensejo
De
ouvi-las nos programas de cinema.
Não
perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
que
mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma
boca de estrela dando beijo
é,
meu amigo, assunto p’ra um poema.
Direis
agora: Mas, enfim, meu caro,
As
estrelas que dizem? Que sentido
têm
suas frases de sabor tão raro?
Amigo,
aprende inglês para entendê-las,
Pois
só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas.
(TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas.
In: Becker, I. Humor e humorismo: Antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961)
A partir da comparação entre os
poemas, verifica-se que
a) no texto de Bilac, a
construção do eixo temático se deu em linguagem denotativa, enquanto no de
Tigre, em linguagem conotativa.
b) no texto de Bilac, as
estrelas são inacessíveis, distantes, e no texto de Tigre, são próximas,
acessíveis aos que as ouvem e as entendem.
c) no texto de Tigre, a
linguagem é mais formal, mais trabalhada, como se observa no uso de estruturas
como “dir-vos-ei sem pejo” e “entendê-las”.
d) no texto de Tigre,
percebe-se o uso da linguagem metalinguística no trecho “Uma boca de estrela
dando beijo/é, meu amigo, assunto p’ra um poema.”
e) no texto
de Tigre, a visão romântica apresentada para alcançar as estrelas é enfatizada
na última estrofe de seu poema com a recomendação de compreensão de outras
línguas.
2. ENEM 2013
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo
Correia. Brasilia: Alhambra, 1995.)
Coerente com a proposta
parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de
Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são
julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que:
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma
dissimulada.
b) o sofrimento intimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo
social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de
inveja.
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio
social.
3.ENEM 2014
Abrimos o Brasil a todo o mundo: mas queremos que o
Brasil seja Brasil! Queremos conservar a nossa raça, a nossa história, e, principalmente,
a nossa língua, que é toda a nossa vida, o nosso sangue, a nossa alma, a nossa
religião.
(Olavo Bilac. Últimas
conferências e discursos. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1927)
Nesse trecho, Olavo Bilac
manifesta seu engajamento na constituição da identidade nacional e linguística,
ressaltando a:
a) transformação da cultura
brasileira.
b) religiosidade do povo
brasileiro.
c) abertura do Brasil para a
democracia.
d) importância comercial do
Brasil.
e)
autorreferência do povo como brasileiro.
4. ENEM 2015
A pátria
Ama,
com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança!
não verás nenhum país como este!
Olha
que céu! que mar! que rios! que floresta!
A
Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um
seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê
que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que
se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê
que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê
que grande extensão de matas, onde impera,
Fecunda
e luminosa, a eterna primavera!
Boa
terra! jamais negou a quem trabalha
O
pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem
com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê
pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança!
não verás pais nenhum como este:
Imita
na grandeza a terra em que nasceste!
(BILAC, O. Poesias infantis.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929)
Publicado
em 1904, o poema A pátria harmoniza-se
com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso
poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que:
a) a
paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de
grandeza.
b) a
prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de
governo.
c)
os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones
nacionais.
d) a
capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele
momento.
e)
a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social
experimentado.
Gabarito:
1.D
2.A
3.E
4.B
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