segunda-feira, 14 de setembro de 2020


 

1. ENEM 2011

Nascido em 1935, José Francisco Borges ou J. Borges, como prefere ser chamado, é um dos mais expressivos artistas populares do Brasil. Considerado por Ariano Suassuna o maior gravador popular do país, o artista foi um dos ilustradores do calendário da ONU do ano de 2002. Autodidata, J. Borges publicou seu primeiro cordel em 1964, intitulado O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina, seguido de O Verdadeiro Aviso de Frei Damião Sobre os Castigos que Vêm, cuja publicação deu início à sua carreira de gravador. Na década de 1970, artistas plásticos, intelectuais e marchands passaram a encomendar suas xilogravuras, o que levou as imagens a ganharem cada vez mais autonomia em relação ao cordel. Desde então, o itinerário do artista vem se fortalecendo pela transmissão dos conhecimentos da xilogravura às novas gerações de sua família, com quem mantém a Casa de Cultura Serra Negra, no sertão pernambucano.



A xilogravura é um meio de expressão de grande força artística e literária no Brasil, especialmente no Nordeste brasileiro, onde os artistas populares talham a madeira, transformando-a em verdadeiras obras de arte. Com total liberdade artística, hoje já conquistaram espaço entre os diversos setores culturais do país, retratando cenas:

a) com temas de personagens do folclore popular, crenças e futilidades dos mais necessitados.

b) das grandes cidades, com a preocupação de uma representação realista da figura humana nordestina.

c) com personagens fantasiosos, beatos e cangaceiros presentes nas crenças da população nordestina.

d) de conteúdo histórico e político do Nordeste brasileiro, com a intenção de valorizar as diferenças sociais.

E) do seu próprio universo, revelando personagens com aparência humilde em vestes requintadas.


2. ENEM 2013

História da máquina que faz o mundo rodar

Cego, aleijado e moleque,

Padre, doutor e soldado,

Inspetor, juiz de direito,

Comandante e delegado,

Tudo, tudo joga o dinheiro

Esperando bom resultado.

Matuto, senhor de engenho,

Praciano e mandioqueiro,

Do agreste ao sertão

Todos jogam seu dinheiro

Se um diz que é mentiroso

Outro diz que é verdadeiro.

Na opinião do povo

Não tem quem possa mandar

Faça ou não faça a máquina

O povo tem que esperar

Por que quem joga dinheiro

Só espera mesmo é ganhar.

Assim é que muitos pensam

Que no abismo não cai

Que quem não for no Juazeiro

Depois de morto ainda vai,

Assim também é crença

Que a dita máquina sai.

Quando um diz: ele não faz,

Já outro fica zangado

Dizendo: assim como Cristo

Morreu e foi ressuscitado

Ele também faz a máquina

E seu dinheiro é lucrado.

 (CRUZ, A. F.)

No fragmento, as escolhas lexicais remetem às origens geográficas e sociais da literatura de cordel. Exemplifica essa remissão o uso de palavras como:

a) comandante, delegado, dinheiro, resultado, praciano.

b) agreste, sertão, Juazeiro, matuto, senhor de engenho.

c) cego, aleijado, moleque, soldado, juiz de direito.

d) mentiroso, verdadeiro, joga, ganhar.

e) morto, crença, zangado, Cristo.

 

3. ENEM 2013

O cordelista por ele mesmo

Aos doze anos eu era

forte, esperto e nutrido.

Vinha do Sítio  

muito alegre e divertido

vender cestos e balaios

que eu mesmo havia tecido.

Passava o dia na feira

e à tarde regressava

levando umas panelas

que minha mãe comprava

e bebendo água salgada

nas cacimbas onde passava.

(BORGES, J. F. Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel. Porto Alegre: LP&M, 2003 - fragmento)

Literatura de cordel é uma criação popular em verso, cuja linguagem privilegia, tematicamente, histórias de cunho regional, lendas, fatos ocorridos para firmar certas crenças e ações destacadas nas sociedades locais. A respeito do uso das formas variantes da linguagem no Brasil, o verso do fragmento que permite reconhecer uma região brasileira é:

a) “levando umas panelas”.

b) “Passava o dia na feira”.

c) “muito alegre e divertido”.

d) “nas cacimbas onde passava”.

e) “que minha mãe comprava”.


4. ENEM 2014

Cordel resiste à tecnologia gráfica

O Cariri mantém uma das mais ricas tradições da cultura popular. É a literatura de cordel, que atravessa os séculos sem ser destruída pela avalanche de modernidade que invade o sertão lírico e telúrico. Na contramão do progresso, que informatizou a indústria gráfica, a Lira Nordestina, de Juazeiro do Norte, e a Academia dos Cordelistas do Crato conservam, em suas oficinas, velhas máquinas para impressão dos seus cordéis.

A chapa para impressão do cordel é feita à mão, letra por letra, um trabalho artesanal que dura cerca de uma hora para confecção de uma página. Em seguida, a chapa é levada para a impressora, também manual, para imprimir. A manutenção desse sistema antigo de impressão faz parte da filosofia do trabalho. A outra etapa é a confecção da xilogravura para a capa do cordel.

As xilogravuras são ilustrações populares obtidas por gravuras talhadas em madeira. A origem da xilogravura nordestina até hoje é ignorada. Acredita-se que os missionários portugueses tenham ensinado sua técnica aos índios, como uma atividade extra-catequese, partindo do princípio religioso que defende a necessidade de ocupar as mãos para que a mente não fique livre, sujeita aos maus pensamentos, ao pecado. A xilogravura antecedeu ao clichê, placa fotomecanicamente gravada em relevo sobre metal, usualmente zinco, que era utilizada nos jornais impressos em rotoplanas.

 (VICELMO, A.)

A estratégia gráfica constituída pela união entre as técnicas da impressão manual e da confecção da xilogravura na produção de folhetos de cordel:

a) realça a importância da xilogravura sobre o clichê.

b) oportuniza a renovação dessa arte na modernidade.

c) demonstra a utilidade desses textos para a catequese.

d) revela a necessidade da busca das origens dessa literatura.

e) auxilia na manutenção da essência identitária dessa tradição popular.


5. ENEM 2014

A literatura de cordel é ainda considerada, por muitos, uma literatura menor. A alma do homem não é mensurável e — desde que o cordel possa exprimir a história, a ideologia e os sentimentos de qualquer homem — vai ser sempre o gênero literário preferido de quem procura apreender o espírito nordestino. Os costumes, a língua, os sonhos, os medos e as alegrias do povo estão no cordel. Na nossa época, apesar dos jornais e da TV — que poderiam ter feito diminuir o interesse neste tipo de literatura — e da falta de apoio econômico, o cordel continua vivo no interior e em cenáculos acadêmicos.

A literatura de cordel, as xilogravuras e o repente não foram apenas um divertimento do povo. Cordéis e cantorias foram o professor que ensinava as primeiras letras e o médico que falava para inculcar comportamentos sanitários. O cordel e o repente fazem, muitas vezes, de um candidato o ganhador da banca de deputado. E assim, lendo e ouvindo, foi-se formando a memória coletiva desse povo alegre e trabalhador, que embora calmo, enfrenta o mar e o sertão com a mesma valentia.

(BRICKMANN, L. B. E de repente foi o cordel)

O gênero textual cordel, também conhecido como folheto, tem origem em relatos orais e constitui uma forma literária popular no Brasil. A leitura do texto sobre a literatura de cordel permite:

a) descrever esse gênero textual exclusivamente como instrumento político.

b) valorizar o povo nordestino, que tem no cordel sua única forma de expressão.

c) ressaltar sua importância e preservar a memória cultural de nosso povo.

d) avaliar o baixo custo econômico dos folhetos expostos em barbantes.

e) informar aos leitores o baixo valor literário desse tipo de produção.

 


Gabarito:

1. C

2. B

3. D

4. E

5. C

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