segunda-feira, 11 de março de 2019

O Simbolismo no Brasil







O Simbolismo no Brasil

O movimento simbolista surgiu na França no final do século XIX propondo uma retomada ao sentimentalismo que vinha dando lugar ao cientificismo na literatura. 

No Brasil, surge em 1893 com a publicação de Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de Cruz e Souza e segue até o início do Modernismo, em 1922. 







O Simbolismo não atuou somente no âmbito da Literatura, mas também nas artes plásticas e no teatro, tendo como forte base, o sentimentalismo, o subjetivismo e o romantismo.



Apesar da aparente retomada às características do Romantismo, o caminho percorrido pelos simbolistas foi bem diferente, sendo mais ousados e até mesmo irracionais, compreendendo os limites mais extremos da razão e do inconsciente.


Principais características do Simbolismo:

Ênfase nos temas místicos e imaginários.

Os simbolistas acreditavam que o misticismo marcado pela morte era inevitável e, por isso, se torna objeto de adoração entre eles.

Subjetivismo e individualismo

O simbolista não aceita a separação entre o sujeito e objeto ou entre o artista e o tema, considerando que o mundo e alma têm afinidades. Além disso, considera que a arte não é um objeto fechado e, sendo assim, permite várias leituras, o que justifica a presença do subjetivismo.

Espiritualidade 

A valorização da espiritualidade ocorre de forma transcendental, com uma integração cósmica, misteriosa e até mesmo sagrada. 

Subconsciente e inconsciente

Os simbolistas afastam-se dos modelos formais impostos pelas Escolas Literárias anteriores e buscam compreender os diversos aspectos da alma humana através de uma linguagem imprecisa e vaga. As obras, portanto, exaltam a realidade subjetiva.

Musicalidade:

A busca pelo efeito da musicalidade ocorre através da escolha de figuras de linguagem caracterizadas pela repetição de sons como a aliteração e a assonância e pela onomatopeia que reproduz o efeito causado por sons reais.


Figuras de linguagem:

Aliteração - caracterizada pela repetição de consoantes e sílabas.

Assonância - caracterizada pela repetição de vogais.

Onomatopeia - caracterizada pela reprodução de sons reais.

Sinestesia - caracterizada pela combinação de diferentes sensações relacionadas com o sistema sensorial (visão, olfato, paladar, audição e o tato).


Desconsideração das questões sociais

A subjetividade do escritor simbolista propõe a valorização do "eu" em detrimento das descrições da realidade subjetiva e das questões sociais tão abordadas nos movimentos anteriores. Dessa forma, o Simbolismo nega a lógica e a razão.

Principais escritores:

Cruz e Sousa (1861 - 1898)

João da Cruz e Sousa é o precursor do Simbolismo e considerado o maior representante do movimento no Brasil.

Sua obra é marcada pela musicalidade e espiritualidade e a temática aborda a solidão, a dor e o sofrimento, influência da perda prematura de seus quatro filhos.

O escritor também aborda a questão do abolicionismo.

Principais obras: Missal (1893), Broquéis (1893), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905).

Alguns de seus poemas são:

A Morte

Oh! que doce tristeza e que ternura
No olhar ansioso, aflito dos que morrem…
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!

Da vida aos frios véus da sepultura
Vagos momentos trêmulos decorrem…
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.

Descem então aos golfos congelados
Os que na terra vagam suspirando,
Com os velhos corações tantalizados.

Tudo negro e sinistro vai rolando
Báratro a baixo, aos ecos soluçados
Do vendaval da Morte ondeando, uivando…


Livre

Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.

Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.

Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.

Violões que choram... 

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento…
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites da solidão, noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.

Vocabulário: Calabouço – prisão subterrânea
Grilhão – corrente que prende os condenados
Funéreo – relativo à morte
Etéreo – sublime, puro, elevado, celestial


Sutis palpitações a luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos Nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram,
Gemidos, prantos, que no espaço morrem…

E sons soturnos, suspiradas magoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.


Alphonsus de Guimarães (1870 - 1921)

Afonso Henrique da Costa Guimarães é considerado um dos principais escritores simbolistas no Brasil e tem sua obra marcada principalmente pela sensibilidade, espiritualidade, misticismo e religiosidade.

Escreveu tanto em prosa quanto em poesia, mas foi na poesia que ele teve maior destaque.

Principais obras: Setenário das dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902).

Alguns de seus poemas são: 

Ai Dos Que Vivem, Se Não Fora O Sono

Ai dos que vivem, se não fora o sono!
O sol, brilhando em pleno espaço, cai
Em cascatas de luz; desce do trono
E beija a terra inquieta, como um pai.

E surge a primavera. O áureo patrono
Da terra é sempre o mesmo sol. Mas ai
Da primavera, se não fora o outono,
Que vem e vai, e volta, e outra vez vai.

Ao níveo luar que vaga nos outeiros
Sucedem sombras. Sempre a lua tem
A escuridão dos sonhos agoureiros.

Tudo vem, tudo vai, do mundo é a sorte...
Só a vida, que se esvai, não mais nos vem.
Mas ai da vida, se não fora a morte!


Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...

Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...


A Passiflora

A Passiflora, flor da Paixão de Jesus,
Conserva em si, piedosa, os divinos Tormentos:
Tem cores roxas, tons magoados e sangrentos
Das Chagas Santas, onde o sangue é como luz.

Quantas mãos a colhê-la, e quantos seios nus
Vêm, suaves, aninhá-la em queixas e lamentos!
Ao tristonho clarão dos poentes sonolentos,
Sangram dentro da flor os emblemas da Cruz...

Nas noites brancas, quando a lua é toda círios,
O seu cálice é como entristecido altar
Onde se adora a dor dos eternos Martírios...

Dizem que então Jesus, como em tempos de outrora,
Entre as pétalas pousa, inundado de luar...
Ah! Senhor, a minha alma é como a passiflora!


Augusto dos Anjos (1884 - 1914)

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos também é um dos grandes nomes do Simbolismo, embora sua obra transite entre o Simbolismo e o Pré-Modernismo.

Ele abordava a temática da morte em seus poemas o que atribuía à sua obra um caráter sombrio. Sua obra de destaque intitulada Eu, foi publicada em 1912 e contemplava vários poemas, dentre eles:

Ecos d’Alma

Oh! madrugada de ilusões, santíssima,
Sombra perdida lá do meu Passado,
Vinde entornar a clâmide puríssima
Da luz que fulge no ideal sagrado!

Longe das tristes noutes tumulares
Quem me dera viver entre quimeras,
Por entre o resplandor das Primaveras
Oh! madrugada azul dos meus sonhares;

Mas quando vibrar a última balada
Da tarde e se calar a passarada
Na bruma sepulcral que o céu embaça,

Quem me dera morrer então risonho,
Fitando a nebulosa do meu Sonho
E a Via-Láctea da Ilusão que passa!


O Pântano

Podem vê-lo, sem dor, meus semelhantes!
Mas, para mim que a Natureza escuto,
Este pântano é o túmulo absoluto,
De todas as grandezas começantes!

Larvas desconhecidas de gigantes
Sobre o seu leito de peçonha e luto
Dormem tranqüilamente o sono bruto
Dos superorganismos ainda infantes!

Em sua estagnação arde uma raça,
Tragicamente, à espera de quem passa
Para abrir-lhe, às escâncaras, a porta...

E eu sinto a angústia dessa raça ardente
Condenada a esperar perpetuamente
No universo esmagado da água morta!


Saudade

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noute quando em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
P’ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida. 

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